Maravilha # 1 - Que maravilha de curso!



Há pessoas para quem os tempos da faculdade nunca deixam de ser ‘o tempo das suas vidas’ e não há qualquer dúvida de que Miguel Relvas gostou muito desses cinco minutos.
Ainda hoje, Relvas diz recordar com saudade as tradições académicas, nomeadamente a praxe de lhe terem sido atribuídos 160 dos 180 créditos necessários para concluir a licenciatura, por pouco mais do que ter dançado num rancho.
Como qualquer estudante que preza a vida universitária, Miguel Relvas trocava com frequência o estudo pela boémia. De tal forma, que o mais provável é nunca ter assistido a qualquer aula ou feito qualquer exame, ainda que não seja certo que fossem traçadinhos que bebia enquanto conspirava com Passos Coelho para derrubar líderes do PSD.

Maravilha # 2 - Que maravilha de notícias!



Se é certo que o jornalismo não é a realidade, mas antes uma construção da mesma, então Miguel Relvas é o Oscar Niemeyer da notícia: é impossível não nos perdermos nas curvas e contracurvas da verdade por ele projetada.
E quer se trate do comentador que ousa questionar a subserviência do poder político português perante o regime de Angola ou da jornalista que ousa publicar uma notícia sem autorização de Relvas, o tratamento que lhes é dado é, também ele, inspirado no setor da construção: uns metafóricos sapatos de cimento.
A questão não é que Miguel Relvas lide mal com a liberdade de imprensa. A questão é que ele não consegue meter todos os jornalistas a trabalhar nas obras.

Maravilha # 3 - Que maravilha de segredos!



Uma pessoa troca umas quantas SMS com o diretor das ‘secretas’ portuguesas e as mensagens acabam escarrapachadas nas páginas dos jornais: Miguel Relvas aprendeu da pior forma o significado da palavra ironia.
E como se isto não bastasse, toda a gente o criticou por dizer, sob juramento, que não conhecia Silva Carvalho, quando era relativamente usual comunicarem entre si. Ou seja, já não se pode fazer «Shhh» ao nosso interlocutor para que as pessoas à volta não ouçam o segredo que estamos a contar.
Mas se muitos não dominam a arte da discrição, Miguel Relvas pode dar lições nesta matéria: ainda hoje não se sabe ao certo de que forma ele usou as informações que Silva Carvalho lhe passou sobre Pinto Balsemão e outras personalidades.

Maravilha # 4 - Que maravilha de contratos!



Se o seu melhor amigo precisasse de ajuda, você não o ajudava? Agora imagine que esse seu amigo nunca trabalhou na vida e agora tinha uma empresa a precisar de um empurrão... Você não sentia ainda mais essa necessidade de fazer o que pudesse por ele?
Então, tem de admitir que, se você fosse secretário de Estado e a empresa do seu amigo operasse nas áreas sob a sua tutela, certas pessoas mal-intencionadas poderiam confundir tráfico de influências com qualquer pequena ajuda – como fazer contratos de formação para centenas de funcionários que, na realidade, não eram mais de dez.
Mas já se sabe, a inveja é uma coisa muito feia e o que não falta são pessoas invejosas por não terem uma maravilha de amigo como Miguel Relvas.

Maravilha # 5 - Que maravilha de casas!



Não faltam canções que anunciam que casa é onde está o coração ou onde se pousa o chapéu. Para Miguel Relvas, casa é em Lisboa. Ou, para efeitos de despesas de deslocação, é em Tomar. E não é uma, são quatro casas.
Relvas é, portanto, um poeta em residência, no sentido de que toma liberdades poéticas quando se trata de declarar na Assembleia da República em que localidade reside.
Se fosse um cantor pimba, Miguel Relvas nunca poderia ser Dino Meira, porque, sendo certo que ainda ontem estava em Lisboa, agora ainda não está em Tomar. É por isso que os 30 mil euros de telemóvel pagos por aquela Câmara até significaram uma poupança: tivessem as chamadas sido feitas pela rede fixa e seriam as chamadas locais mais caras da história.

Maravilha # 6 - Que maravilha de viagens!



De pequenino se torce o pepino, diz a sabedoria popular. Mas, sempre o primeiro a apostar na inovação, o jovem Miguel Relvas, ainda nem 30 aninhos feitos, trocou o torcer pelo desdobrar. Viagens pagas pela Assembleia da República, isto é.
Pode-se argumentar que tudo não passou de modéstia: com viagens marcadas em primeira classe, preferiu viajar em turística; com deslocações pagas, preferiu ficar casa. E, como a modéstia anda de braço dado com a benevolência, preferiu ficar com o dinheiro no bolso do que estar a dar trabalho aos funcionários do Parlamento, devolvendo-o.
Custa até a acreditar que este é o mesmo homem que, anos mais tarde, contratou um motorista por mais de 70 mil euros. Ou então não.

Maravilha # 7 - Que maravilha de demissão!



É a mais recente maravilha de Miguel Relvas e a única que só não foi uma maravilha para o próprio.
Foi uma maravilha para os portugueses, que se convenceram de que foi por causa da sua pressão que a demissão aconteceu; foi uma maravilha para Nuno Crato, que deu uma imagem de homem rigoroso, apesar de ter precisado de meses para concluir um inquérito que demorava menos tempo a fazer do que Relvas a tirar um curso; foi uma maravilha para Passos Coelho, que conseguiu ar para mais umas semanas.
Foi, finalmente, uma maravilha para os jornalistas, que puderam usar um daqueles obituários que têm prontos para as personalidades que se sabe que estão para finar. Agora que publicaram o de Miguel Relvas, ainda lhes restam os de Fidel Castro, de Pinto da Costa e do Papa (há sempre um obituário do Papa pronto, seja ele quem for).